terça-feira, 30 de julho de 2013

Suando a Camisa - Trabalho na Irlanda

Sei que andei meio sumida nos posts, peço desculpas, mas ando bastante ocupada com o trabalho. Pois é, essa ideia de querer vir para a Europa onde a moeda local é em média três vezes mais cara do que a moeda no seu país faz com que a gente precise “rebolar” para garantir a sobrevivência.

Como já sabem, cheguei em Dublin no final do mês de Janeiro, inverno e praticamente escasso de trabalho, principalmente para quem, como eu na época, não falava o idioma local. Cinco longos meses se passaram até que eu conseguisse arrumar meu primeiro emprego.

Tenho que admitir que em parte foi porque não me dediquei tanto quanto poderia nessa busca, pois preferi investir meu tempo estudando duro para aprender o inglês, já que esse sempre foi meu objetivo principal e também porque é essencial para qualquer trabalho. Havia trazido dinheiro para me sustentar, o trabalho seria apenas como um extra para viagens e para minha listinha de desejos (>-_-<).

Após cinco meses árduos e longas horas diárias estudando, consegui pular do nível Elementary (nível básico) de inglês para o nível Upper Intermediate (penúltimo nível). Não posso afirmar que me sinto tão segura quanto a esse nível, mas posso afirmar que não passo mais apuros na hora de me comunicar.

A maioria dos trabalhos aqui em Dublin são “conquistados” na base da indicação. Entra aí a importância de não se afastar dos seus amigos brasileiros, tema tão polêmico aqui pela cidade, pois são essas pessoas que podem te ajudar a conseguir seu primeiro emprego. E esteja certo, o primeiro emprego, pode-se dizer que é o mais importante, pois é ele que te direciona para os próximos, caso haja o próximo.

Um domingo estava eu na igreja, tentando acompanhar o culto em inglês, quando alguém mencionou que a esposa havia conseguido trabalho e que lá estavam precisando de muitas pessoas extras. Quem tivesse interesse deveria entrar em contato ao final do culto.

Pois bem, consegui meu primeiro emprego: cleaner. O trabalho consiste em fazer limpeza pesada (pesada mesmo) em residência estudantil de uma famosa universidade de Dublin, que no verão, com a saída dos alunos para as férias, se transforma em uma espécie de hotel. Após a limpeza pesada, que durou cerca de três semanas, iniciamos o trabalho de manutenção da limpeza, trabalho esse um pouco menos pesado, mas tão corrido quanto.

Quando adolescente sempre desdenhei o trabalho doméstico, nunca gostei de fazer e sempre reclamei quando era necessário. Hoje agradeço a minha mãezinha que pacientemente me ensinou a fazê-lo, pois isso garantiu que eu me adaptasse mais rápido ao trabalho.

É também uma divergente discussão quanto à facilidade ou não de se conseguir um trabalho em Dublin. Minha opinião é clara: É Muito Difícil! Tem trabalho, mas como a oferta de “profissionais” aumentou muito nos últimos anos (parte devido à crise na Europa e parte devido à invasão de brasileiros e estrangeiros de outras nacionalidades), as exigências para o trabalho também aumentaram. 

Quando se vê um anúncio de vaga, geralmente ele é acompanhado de requisitos como: mínimo 2 anos de experiência NA IRLANDA, inglês fluente, entre outros. Coloquei o “na Irlanda” em letras garrafais para explicar uma situação muito comum por aqui.

Os brasileiros quando chegam, geralmente possuem alguma formação ou profissão no Brasil que lhes permita juntar dinheiro suficiente para um intercâmbio. Por essa razão, poucos ou nenhum possui experiência em cleaner, babá, garçom  lavador de pratos entregador de jornal ou similares (esses são os trabalhos mais comuns para estrangeiros por aqui). Como precisam do trabalho, inventam experiências no currículo  se apoiando no fato de que dificilmente algum empregador irá ligar para checar as referências ou mesmo que ligue não conseguirá uma comunicação muito fácil devido ao idioma. Saturados de contratar profissionais com belos currículos e nenhuma experiência quando colocada à prova, os empregadores começaram a exigir tempo mínimo de experiência na Irlanda. Simples assim.

Não sei se por ignorância ou apenas descaso, os empregadores não conseguem imaginar que com um salário de subemprego no Brasil, dificilmente teríamos condições financeiras de encarar um intercâmbio e investir tanto dinheiro. Não pensam que a maioria dos brasileiros que chegam aqui são estudantes e que querem trabalhar apenas para complementar a renda que trouxe ou para sua manutenção pessoal. O fato é que enquanto a oferta continuar tão grande, dificilmente essa situação irá mudar.

Muitas pessoas aproveitam o fato de receber em euro para fazer uma "graninha" extra no Brasil, pois como é mais valorizado que o real, com uma quantia pequena é possível fazer uma boa poupança. Com o custo de vida baixo aqui, é possível tirar as despesas mensais, ter algum lazer e ainda sobrar dinheiro ao final do mês.

Hoje continuo me deleitando com o trabalho de cleaner e, em busca de algum outro que possa complementar a renda com mais horas diárias, já que o curso terminou e tenho mais tempo livre. Digo deleitar-me porque o trabalho de cleaner é um dos mais bem pagos com uma média de 10 euros por hora trabalhada. Não é raro ver brasileiras que, desesperadas por um trabalho, são "escravizadas" em troca de míseros 80 euros semanais e alimentação para morar em uma casa de família e cuidar de em média três crianças e ainda realizar tarefas domésticas.

Estou trabalhando e fazendo as contas de quantas viagens posso fazer com o que estou ganhando. Não dá pra dizer que seja fácil, muitas vezes precisamos passar por situações difíceis, incluindo desrespeito e humilhações, mas procuro focar apenas no dinheiro e relevar tudo isso, absorvendo apenas o aprendizado e esquecendo o resto.

E continuamos na luta! =]