Sei que andei meio sumida nos posts,
peço desculpas, mas ando bastante ocupada com o trabalho. Pois é, essa ideia de
querer vir para a Europa onde a moeda local é em média três vezes mais cara do
que a moeda no seu país faz com que a gente precise “rebolar” para garantir a
sobrevivência.
Como já sabem, cheguei em Dublin no
final do mês de Janeiro, inverno e praticamente escasso de trabalho,
principalmente para quem, como eu na época, não falava o idioma local. Cinco
longos meses se passaram até que eu conseguisse arrumar meu primeiro emprego.
Tenho que admitir que em parte foi
porque não me dediquei tanto quanto poderia nessa busca, pois preferi investir
meu tempo estudando duro para aprender o inglês, já que esse sempre foi meu
objetivo principal e também porque é essencial para qualquer trabalho. Havia
trazido dinheiro para me sustentar, o trabalho seria apenas como um extra para
viagens e para minha listinha de desejos (>-_-<).
Após cinco meses árduos e longas horas
diárias estudando, consegui pular do nível Elementary (nível básico) de inglês
para o nível Upper Intermediate (penúltimo nível). Não posso afirmar que me
sinto tão segura quanto a esse nível, mas posso afirmar que não passo mais
apuros na hora de me comunicar.
A maioria dos trabalhos aqui em Dublin
são “conquistados” na base da indicação. Entra aí a importância de não se
afastar dos seus amigos brasileiros, tema tão polêmico aqui pela cidade, pois
são essas pessoas que podem te ajudar a conseguir seu primeiro emprego. E
esteja certo, o primeiro emprego, pode-se dizer que é o mais importante, pois é
ele que te direciona para os próximos, caso haja o próximo.
Um domingo estava eu na igreja,
tentando acompanhar o culto em inglês, quando alguém mencionou que a esposa
havia conseguido trabalho e que lá estavam precisando de muitas pessoas extras.
Quem tivesse interesse deveria entrar em contato ao final do culto.
Pois bem, consegui meu primeiro
emprego: cleaner. O trabalho consiste em fazer limpeza pesada (pesada mesmo) em
residência estudantil de uma famosa universidade de Dublin, que no verão, com a
saída dos alunos para as férias, se transforma em uma espécie de hotel. Após a
limpeza pesada, que durou cerca de três semanas, iniciamos o trabalho de
manutenção da limpeza, trabalho esse um pouco menos pesado, mas tão corrido
quanto.
Quando adolescente sempre desdenhei o
trabalho doméstico, nunca gostei de fazer e sempre reclamei quando era
necessário. Hoje agradeço a minha mãezinha que pacientemente me ensinou a
fazê-lo, pois isso garantiu que eu me adaptasse mais rápido ao trabalho.
É também uma divergente discussão
quanto à facilidade ou não de se conseguir um trabalho em Dublin. Minha opinião
é clara: É Muito Difícil! Tem trabalho, mas como a oferta de “profissionais”
aumentou muito nos últimos anos (parte devido à crise na Europa e parte devido
à invasão de brasileiros e estrangeiros de outras nacionalidades), as
exigências para o trabalho também aumentaram.
Quando se vê um anúncio de vaga,
geralmente ele é acompanhado de requisitos como: mínimo 2 anos de experiência
NA IRLANDA, inglês fluente, entre outros. Coloquei o “na Irlanda” em letras
garrafais para explicar uma situação muito comum por aqui.
Os brasileiros quando chegam,
geralmente possuem alguma formação ou profissão no Brasil que lhes permita
juntar dinheiro suficiente para um intercâmbio. Por essa razão, poucos ou
nenhum possui experiência em cleaner, babá, garçom lavador de pratos
entregador de jornal ou similares (esses são os trabalhos mais comuns para
estrangeiros por aqui). Como precisam do trabalho, inventam experiências no currículo se apoiando no fato de que dificilmente algum empregador irá ligar
para checar as referências ou mesmo que ligue não conseguirá uma comunicação
muito fácil devido ao idioma. Saturados de contratar profissionais com belos currículos e nenhuma experiência quando colocada à prova, os empregadores
começaram a exigir tempo mínimo de experiência na Irlanda. Simples assim.
Não sei se por ignorância ou apenas
descaso, os empregadores não conseguem imaginar que com um salário de
subemprego no Brasil, dificilmente teríamos condições financeiras de encarar um
intercâmbio e investir tanto dinheiro. Não pensam que a maioria dos brasileiros
que chegam aqui são estudantes e que querem trabalhar apenas para complementar
a renda que trouxe ou para sua manutenção pessoal. O fato é que enquanto a
oferta continuar tão grande, dificilmente essa situação irá mudar.
Muitas pessoas aproveitam o fato de
receber em euro para fazer uma "graninha" extra no Brasil, pois como
é mais valorizado que o real, com uma quantia pequena é possível fazer uma boa
poupança. Com o custo de vida baixo aqui, é possível tirar as despesas mensais,
ter algum lazer e ainda sobrar dinheiro ao final do mês.
Hoje continuo me deleitando com o
trabalho de cleaner e, em busca de algum outro que possa complementar a renda
com mais horas diárias, já que o curso terminou e tenho mais tempo livre. Digo
deleitar-me porque o trabalho de cleaner é um dos mais bem pagos com uma média
de 10 euros por hora trabalhada. Não é raro ver brasileiras que, desesperadas
por um trabalho, são "escravizadas" em troca de míseros 80 euros
semanais e alimentação para morar em uma casa de família e cuidar de em média
três crianças e ainda realizar tarefas domésticas.
Estou trabalhando e fazendo as contas
de quantas viagens posso fazer com o que estou ganhando. Não dá pra dizer que
seja fácil, muitas vezes precisamos passar por situações difíceis, incluindo
desrespeito e humilhações, mas procuro focar apenas no dinheiro e relevar tudo
isso, absorvendo apenas o aprendizado e esquecendo o resto.
E continuamos na luta! =]
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