sexta-feira, 16 de maio de 2014

Minhas Andanças - Veneza, a Cidade das Águas

Dia desses estava conversando com uma amiga e falávamos sobre tipos de turistas. Cheguei à conclusão que, diferentemente dela, sou uma turista clichê. Sim, clichê, pois os destinos frutos do meu desejo são os mais “populares” e almejados pela maioria dos mortais. Em minha defesa, argumento que os destinos clichês não se tornaram clichês à toa, se hoje eles são rotulados dessa forma é porque em algum momento foi possível identificar sua importância e disseminar a vontade de fazer parte dos conhecedores dessas maravilhas.

Canal tão estreito que não se pode abrir os braços
Quer uma cidade mais clichê do que Veneza? Famosa pelos seus inúmeros canais e pontes, suas gôndolas, máscaras e tudo o que povoa nossa mente quando se fala dela. Conhecida ainda por eventos como o Festival de Cinema e a Bienal de Artes, pela Regata Histórica, pela fabricação de vidro, pelo Carnaval de Veneza, pelos cassinos e pelos seus passeios românticos, levando muitos casais a passarem suas luas-de-mel.

Veneza fica localizada na região do Vêneto no nordeste da Itália. É mundialmente conhecida pela sua história, canais, museus e monumentos. É classificada como Patrimônio da Humanidade pela UNESCO por sua importância histórica e cultural, uma vez que já foi uma potência comercial, uma das cidades mais importantes da Europa, com uma história rica e complexa e um império de influência mundial. Como não poderia deixar de ser, é um dos mais populares destinos turísticos do mundo.

Nossa Chegada Noturna - Estação de Trem
Chegamos à Veneza já durante a noite, e para ajudar, com uma chuva fina, mas suficiente para molhar câmeras e roupas. Não podíamos nos dar ao luxo de ter roupas molhadas na bagagem, estávamos apenas na metade da nossa viagem. Sendo assim, optamos por um banho e cama, para que pudéssemos aproveitar bem o dia seguinte. É fato que minha mente fervilhava com a emoção de estar em uma cidade que, apesar de fazer parte dos meus sonhos, jamais havia imaginado ser possível conhecer. Banho tomado, não foi tão fácil ou tão rápido adormecer, primeiro precisei conter minha emoção e meu entusiasmo.

Havia feito um roteiro de lugares por onde pretendia passar e conhecer na cidade, mas logo ao começar o percurso me esqueci dele, fascinada com tanta beleza nas famosas máscaras venezianas das milhares de barracas por onde quer que passasse, no colorido das peças de vidro, no encantamento provocado pelos estreitos canais e ruas que terminavam em rios. Estava encantada e fascinada por essa cidade.
Objetos de Decoração
Bijus e Acessórios

Colorido das Bonecas



Ao iniciar nossa caminhada cruzamos a ponte Degli Scalzi rumando em direção à Praça São Marcos, que concentrava a maioria dos locais que pretendíamos visitar. Seguimos guiados por um GPS, que nem sempre funcionava devido ao fraco sinal de internet, mas que nos foi bastante útil. É extremamente fácil se perder pelas ruelas e becos, que vão te levando de forma a fazer com que você não saiba sequer a direção para onde pretende ir. Não posso reclamar exatamente, pois esses “desencontros” nos permitiu aproveitar as belas paisagens e curiosidades que a cidade proporciona.

Não posso dizer que as construções em Veneza (ao menos em seu exterior) sejam exatamente bonitas ou bem conservadas. Na verdade o que se pode ver são muitos edifícios deteriorados pelo tempo ou mesmo pelas águas que em épocas de cheia, avançam. Mas o pior cenário são os becos pichados e malcheirosos, imagino que isso se deva em parte aos preços praticados para o uso de sanitários, quando se encontra um.
Construções Deterioradas
Pichações por Todos os Lados


Beco Estreito e Fétido


Térreo Inutilizado pela Água
Construção Deteriorada
Algumas construções são intrigantes. Não consegui encontrar em nenhuma pesquisa relatos do quanto a água subiu e avançou sobre as construções nos últimos anos, mas vemos muitos imóveis que simplesmente acabam na água. Onde deveria haver um degrau para entrar não há nada além de água. Outro fato muito comum é o “fechamento” de uma porta ou janela para impedir que a água invada o ambiente. Encontrei em algumas pesquisas que a população costuma morar a partir do primeiro andar das casas, pois não é incomum o alagamento de toda a cidade nas épocas de cheias.

Hotel dentro de um Prédio Destruido
Em compensação, nunca vi tanto contraste entre o exterior e interior. Pode-se ver uma construção digna de destroços de alguma guerra civil e, quando se olha para dentro, é nada menos que um luxuoso hotel, e não duvide se este for cinco estrelas. A exuberância das vitrines atrasou um pouco nosso trajeto, pois não conseguia conter o impulso de uma ou outra foto.

Ao cruzar a famosa ponte Rialto, fiquei maravilhada diante das vitrines das lojas. São tantas coisas lindas, verdadeiras obras de arte, produzidas especialmente para os turistas. A arrumação das lojas, os artigos em vidro, as cores, as charmosas gôndola com seus gondoleiros vestidos à caráter, os luxuosos hotéis e restaurantes. Era tanto luxo e tanto charme, que o cheiro e construções mal conservadas foram rapidamente esquecidos.

Praça São Marcos Alagada
A Praça de São Marcos é o lugar mais baixo de Veneza, e quando a água sobe por tempestades ou excesso de chuva é o primeiro lugar a inundar-se. A água drena diretamente para o Grande Canal, o que é ideal quando chove, mas quando a maré sobe tem o efeito inverso, e a água do canal escoa para a praça.

Infelizmente o clima não estava muito a nosso favor. Estava muito melhor do que em Florença, é verdade, mas ainda assim estava um misto de chove e para e a maré havia subido. Por esse motivo, quando finalmente conseguimos chegar à Praça São Marcos, estava alagada e com a circulação bastante comprometida. Havia muitos “caixotes” e “palanques” que formavam uma espécie de ponte, que permitia às pessoas cruzarem a parte mais alagada da Praça. Os mais avisados utilizavam galochas e circulavam tranquilamente por onde queriam, mas não era esse o nosso caso. Até ameaçamos comprar uma “bota plástica” para utilizar sobre os sapatos e calças, mas o preço era impraticável. Para uma sacola plástica melhorada que se põe sobre o calçado pedia-se a bagatela de 15 euros. Preferimos nos espremer entre os que cruzavam a ponte de palanques para atravessar a praça.
Tapumes Improvisados


Tapumes Improvisados
Fiquei a pensar no por que uma cidade tão turística ainda não esteja adaptada às mudanças climáticas ou que ainda não se tenha criado uma forma melhor para as pessoas se locomoverem em dias chuvosos. E sequer estou a falar do cheiro, que com a cheia inundou todos os cantos, becos e a praça como se estivéssemos nas proximidades de alguma fossa. Talvez devido à sensação provocada pelo cheiro, não tive coragem de comer nenhum tipo de comida marinha (e olha que simplesmente amo frutos do mar). Quando chegou a hora do almoço, preferi ficar com a tradicional pizza italiana. Não sei exatamente o que seria possível ser feito, provavelmente o problema é muito maior do que apenas este que posso enxergar, mas ainda assim é de se lamentar.

Passadas as primeiras impressões à respeito da Praça São Marcos, pudemos olhar ao redor e lá estavam todos eles, os famosos locais que deveríamos conhecer: O Palácio Ducal, a magnífica Basílica de São Marcos, O Museu Correr, tudo ali, concentrado naquele pontinho alagado.

Palácio Ducal
O Palácio Ducal também conhecido como Palácio do Doge, é um símbolo da cidade e uma obra-prima do gótico veneziano. Foi construído entre 1309 e 1424. Antiga sede do Doge de Veneza, hoje é o Museu do Palácio Ducal.



Basílica de São Marcos
Cúpula da Basílica de São Marcos
A Basílica de São Marcos é a mais famosa das igrejas de Veneza, e um dos melhores exemplos da arquitetura bizantina. Localizada ao lado do Palácio dos Doges, a basílica é a sede da arquidiocese católica romana de Veneza desde 1807. É neste lugar que estão localizados os cavalos de São Marcos, que conheci através do livro “Inferno”, de Dan Brown.

Museu Correr
O Museu Correr é o museu municipal da cidade, situado na Praça de São Marcos, ocupa três quartos da praça. Lá estão obras de estilo neoclássico de Antônio Canova, uma coleção de mapas, moedas, armaduras e outros objetos que contam a história da cidade. Relata a trajetória de Veneza, principalmente até o ano de 1866, quando foi anexada a Itália.

Também pudemos admirar o Campanário de São Marcos, a Biblioteca Nacional e a agitação diária no Grande Canal de Veneza. Após algum período, resolvemos retornar para a região do hotel, pois tínhamos um voo mais a tarde e ainda planejávamos algumas compras de lembrancinhas (já que nossa bagagem não permitia nada além).


Vista do Grande Canal
Grande Canal

Campanário

Gôndola Veneziana
 No caminho de volta ainda pudemos nos deliciar com o tradicional passeio de Gôndola, uma embarcação típica de Veneza. Até a chegada dos meios motorizados, foi a embarcação mais utilizada pelas pessoas, já que os canais foram sempre mais utilizados como via de transporte. Atualmente é usada apenas por turistas. A gôndola é considerada uma das formas de encontro mais românticos de Veneza.

Não há nada de muito especial quando se pensa que é apenas um barco que chacoalha bastante, que a todo o momento parece que vai afundar e com preço nada atrativo. O que torna o passeio encantador é a atmosfera criada em torno disso. As clássicas cadeiras cuidadosamente dispostas no pequeno barquinho, o tapete, o gondoleiro uniformizado com sua camiseta listradinha no estilo marinheiro e chapéu, a riqueza de detalhes da embarcação, o estilo único da proa, os pequenos adornos colocados em torno de tudo. Não posso dizer que tenha sido um passeio romântico. Acredito que o que torna qualquer coisa ou lugar romântico seja o romantismo de quem está vivenciando o momento. Talvez seja essa a razão. Mas não foi ruim não, e provavelmente eu teria me sentido frustrada se tivesse visitado Veneza e não tivesse feito o passeio de gôndola.


Ao terminar o passeio, seguimos em direção à estação Santa Lucia, nas imediações do nosso hotel. Fizemos nossas compras, pegamos nossas coisas e partimos para o aeroporto. Para chegar ao aeroporto foi necessário pegarmos um ônibus, o pior e mais caro transporte público que já utilizei. Pagamos caro por um trajeto de aproximadamente uma hora, viajando de pé num ônibus lotado. Mas sobrevivemos. Após isso embarcamos para Barcelona, nossa próxima parada.
Consequências da Cheia
O Maior pote de Nutella que já vi
Perdida pelos becos da cidade
Cotidiano da Cidade

Descendo a Ponte Rialto
  

Detalhe para o Nome do Bar

E assim deixamos Veneza para trás. Uma das mais belas cidades que conheci, e também uma das mais feias. É um contraste tão grande que faz tudo ficar bonito e mágico. Talvez por ter sido uma das cidades que povoavam meus sonhos, a sensação foi de completa realização. Ainda anseio por retornar, para conhecer com calma cada um dos museus e a basílica com toda a calma que merecem. Veneza, certamente uma cidade para ficar na memória. E viva os roteiros clichês!

terça-feira, 6 de maio de 2014

Minhas Andanças - Florença, a Capital do Renascentismo

Florença é um município da Itália, capital e maior cidade da região da Toscana. Durante muito tempo foi considerada a capital da moda. É considerado o berço do Renascimento italiano, e uma das cidades mais belas do mundo. Tornou-se célebre, também, por ser a cidade natal de Dante Alighieri, autor da "Divina Comédia", que é um marco da literatura universal.

Quando montei nosso roteiro e selecionei os lugares por onde passaríamos, sabia de antemão que Florença era uma das principais cidades turísticas italianas e uma das mais importantes no que diz respeito à arte. Havia inclusive escolhido visitar Florença à Milão, por uma indicação de um italiano que conheci na escola.

         Chegamos à cidade durante a noite, o que me faz lembrar de um tragicômico episódio ocorrido durante nossa chegada. Compramos as passagens Pisa/Florença de trem. No momento da compra selecionei a estação de trem “Firenze Campo Marte” como sendo nosso destino final, pois sendo uma das estações situadas no centro da cidade, imaginei que seria suficiente. Ao chegar à cidade, já à noite e sem nenhuma disposição, descobrimos que a estação mais próxima a do nosso hostel era a estação “Santa Maria Novella”.

Decidimos comprar um ticket extra pra nos deslocar ao novo destino, e tentamos nos orientar pelas placas ou pedir alguma informação. Um funcionário que nos viu um tanto quanto perdidos ofereceu-nos ajuda. Explicamos nossa situação (da melhor forma possível, pois se tem uma coisa praticamente impossível na Itália é conversar em inglês) e descobrimos que a estação era uma após a que estávamos e que o último trem passaria em cinco minutos. Prontamente perguntamos onde e como poderíamos adquirir novas passagens. O senhor num tom mais que italiano (ele gritou conosco, como se estivesse dando uma bronca, mas entendemos que era puramente força de expressão e forma de falar dele), nos disse que não precisávamos de passagens e que era apenas uma estação. Mais do que depressa entramos no trem que acabava de parar e nos acomodamos em lugares vagos.

Quando saímos de Roma com Destino a Pisa (viagem de aproximadamente três horas), não fomos em nenhum momento questionados quanto à passagens. O mesmo aconteceu no trajeto Pisa/Florença. Para nossa surpresa, no trem percorria uma única estação, na qual não tínhamos as passagens, fomos questionados a mostrá-las. Muito calmamente (apenas for fora, é claro), mostrei a passagem que tínhamos (o trajeto Pisa/Florença) já pensando em mil formas de explicar o que havia acontecido e o porquê de não termos uma passagem válida para este trajeto. O rapaz olhava para o papel como quem olha para um óvni. Após alguns minutos de tensão ele nos devolveu as passagens e nos questionou o fato de o documento não conter o logotipo da empresa e estar em um formato diferente do que ele estava habituado a ver (havíamos comprado via internet). Devolveu-nos o documento e saiu resmungando alguma coisa em italiano. Foi bastante tenso, mas nos acabamos de rir depois. Como disse, tragicômico.

Ao chegarmos a Florença, o tempo estava variando entre muita chuva e garoa. Isso foi o suficiente para que a cidade passasse praticamente despercebida por nós no que diz respeito à sua importância. É claro que foi inevitável notarmos a beleza de suas construções, mas a essa altura, já estávamos achando tudo muito parecido: construções antigas (como se tivessem sido construídas para gigantes), vielas e ruas charmosas (mas nem tanto devido à chuva, que deixava as ruas e calçadas escorregadias), muitas lojas de gifts e etc.

Nosso primeiro destino foi a Galeria Dell’Academia, um importante museu de Florença dedicado à preservação de obras de arte de fins do gótico até o final do século XIX. É neste lugar que se encontra o David de Michelangelo. Ao chegarmos ao local descobrimos que naquele dia estaria fechado ao público. Não chegou a ser uma decepção, pois o fato de meus parceiros de viagem (com exceção da minha cunhada Sônia) não apreciarem muito visitas a museus, me deixou um pouco menos incomodada por não ter que forçá-los a nos esperar por um longo período ou fazer uma visita indesejada.



Encaminhamos-nos então para a Capela dos Médici, que originalmente foi construída como um mausoléu para os membros da família Medici. Hoje é considerada um dos mais importantes prédios religiosos da Toscana. Aproveitamos para nos abrigar da chuva, que neste momento estava bem forte e não nos proporcionava condições de passeios ao ar livre. Pessoalmente não achei nada de impressionante no exterior da Capela, provavelmente porque o teor artístico se localize em seu interior e, mais uma vez meus parceiros de viagem não se animaram em pagar a taxa requisitada para a visita. Neste momento já estava me perguntando se o mais sensato não seria fazer viagens deste porte sozinha, pois dessa forma eu faria meu roteiro no meu tempo e da forma que eu quisesse... Estava um pouco frustrada. Mas resolvi deixar isso de lado e continuar.



Seguimos em direção a Catedral Santa Maria de Fiori, mas acabamos nos deparando primeiro com o Pallazio Vecchio, que atualmente é a prefeitura de Florença e no seu interior acolhe um museu que expõe, entre outras, obras de Agnolo Bronzino, Michelangelo Buonarroti e Giorgio Vasari. Mais uma vez não entramos no prédio, pois a entrada não era gratuita e não tive total apoio para o pagamento. Dessa vez tenho que admitir que o exterior por si só é praticamente um museu, com muitas esculturas. Não possui as obras lindíssimas que pude ver em fotos na internet, com o teto e paredes totalmente adornadas pelos mestres da pintura renascentista, mas ainda assim não posso dizer que foi decepcionante.

Para ser sincera, apesar de achar as esculturas realmente fantásticas, ao olhá-las sempre tenho um sentimento de repúdio ou no mínimo estranheza. Cada uma delas representa um período ou um acontecimento, mas sempre tenho uma sensação de exagerada brutalidade nesses acontecimentos. Não nego que seja arte e que o trabalho seja de uma perfeição admirável quando imaginamos que os originais foram feitos em épocas onde os equipamentos não possuíam precisão e que os materiais utilizados não eram os mais maleáveis.





Permanecemos um tempo por ali e também passam pelo exterior da Galeria Uffizy, um dos mais famosos museus de arte do mundo, com seu acervo abrangendo de pinturas do renascimento até esculturas da Idade. La está exposta a obra O Nascimento de Vênus de Boticelli. A galeria é um desafio físico para os visitantes. Não tanto pelo tamanho, mas porque são mais de 1.500 obras de arte dispostas em 45 salas. Mais uma vez visitamos apenas o exterior, o que obviamente não é suficiente, mas era tudo o que tínhamos no momento.

Quando a chuva nos permitiu, nos encaminhamos para a Catedral Santa Maria de Fiori, uma igreja revestida com mármore verde, rosa e branco, o Duomo, levou quase 2 séculos para ser construída, é um dos principais cartões postais de Florença. É a 4ª maior catedral do mundo. Este provavelmente foi o lugar que mais me impressionou na cidade e o ponto auge do nosso dia. Olhar para essa igreja me fez pensar se não estaria a maior parte do mármore e granito da terra concentrado na cidade de Florença. É uma verdadeira obra de arte.
   
A entrada na igreja é gratuita, mas havia uma fila muito mais que quilométrica para visitá-la, o que nos fez mais uma vez desistir. Tivemos bastante tempo para apreciá-la por fora, já que novamente a chuva estava muito forte e nos obrigou a ficar abrigados em um ponto onde podíamos vê-la bem de perto. Não foi um período ruim, pois àquele dia definitivamente não era o mais indicado para turismo, mas era o único que possuíamos. Pudemos ficar algum tempo apreciando a magnífica construção e descansar um pouco as pernas, já que caminhar de um lugar para outro e ainda cuidar para não cair nos paralelepípedos escorregadios não estava sendo uma tarefa fácil.

Seguimos então para a Ponte Vecchia, uma das mais famosas pontes do mundo, construída no século XIV sobre o rio Arno, usada inicialmente como açougue e, mais tarde, ocupada por ourives, os quais continuam ali ainda hoje. Olhando-a por fora, me recordo do livro “O Cortiço”, de Aluísio de Azevedo, que denuncia a exploração e as péssimas condições de vida dos moradores das estalagens ou dos cortiços cariocas do final do século XIX. Certamente quando li esse livro imaginei as casas como àquelas lojas da Ponte Vecchia. Amontoadas, sem padronização, com construções saltando para fora do limite da ponte. 


Ao me aproximar do local, no entanto, é possível notar de imediato o contraste. Dezenas de luxuosas joalherias, com preços de enfartar apenas de olhar, com peças dos sonhos de qualquer mulher. Existem também muitas lojas de presentes ou decoração, com preços igualmente nada atrativos. Cruzei a ponte estupefata com tanta beleza. Não tenho condições de descrever de uma forma melhor a não ser dizendo que é um dos lugares mais caros em que já estive.



   
Caminhamos em direção à Igreja Santa Croce, desenhada em forma de cruz egípcia (T), com um interior de dimensões impressionantes, essa é a maior igreja franciscana da Italia. Admito que após visitarmos a Catedral Santa Maria de Fiori, esta ficou praticamente “insignificante” em relação à tamanho. Talvez devêssemos tê-la visitado antes... Ainda assim é inegável sua beleza e mais uma vez reafirmava mentalmente que todo o mármore do mundo estava aqui por essas bandas...

Ainda tínhamos algum tempo, mas estávamos exaustos e um pouco mal-humorados devido ao mau tempo. Resolvemos ir para o hostel esperar o horário do nosso trem, que partiria para Veneza ainda naquela noite.

Após ter visitado Florença, tive uma sensação incômoda, frustrante, por não tê-la aproveitado melhor. Após sairmos da cidade eu a havia elegido como a pior cidade que eu havia passado. Apesar de ter gostado de algumas coisas, não havia gostado do passeio. Muitos meses depois, por influência da Sônia (minha cunhada e companheira nesta viagem), li o livro “Inferno” escrito por Dan Brown, que faz menções à história de Dante e especula sobre sua obra, a Divina Comédia. Este livro fez com que eu me reapaixonasse por Florença, e despertou em mim o desejo de retornar um dia, para apreciar todas as obras como elas realmente merecem.

Escrevendo este post só pude me certificar do que eu já imaginava. Quando visitei Florença, não foi apenas a chuva que foi incômoda naquele dia, mas o fato de apenas termos caminhado o dia inteiro para “constatar” que todos os lugares estavam onde deveriam estar. Não estou dizendo que precisamos entrar em todos os museus de todas as cidades que visitarmos, mas quando você montar um roteiro e eleger alguns lugares para conhecer, realmente os conheça, e não se importe de pagar a taxa de entrada ou de fazer seus companheiros de viagem te esperar por algumas horas que sejam. Certamente isso fará toda a diferença para tornar sua viagem inesquecível. Florença tornou-se para mim uma cidade que ainda me espera para conhecê-la de verdade.