terça-feira, 6 de maio de 2014

Minhas Andanças - Florença, a Capital do Renascentismo

Florença é um município da Itália, capital e maior cidade da região da Toscana. Durante muito tempo foi considerada a capital da moda. É considerado o berço do Renascimento italiano, e uma das cidades mais belas do mundo. Tornou-se célebre, também, por ser a cidade natal de Dante Alighieri, autor da "Divina Comédia", que é um marco da literatura universal.

Quando montei nosso roteiro e selecionei os lugares por onde passaríamos, sabia de antemão que Florença era uma das principais cidades turísticas italianas e uma das mais importantes no que diz respeito à arte. Havia inclusive escolhido visitar Florença à Milão, por uma indicação de um italiano que conheci na escola.

         Chegamos à cidade durante a noite, o que me faz lembrar de um tragicômico episódio ocorrido durante nossa chegada. Compramos as passagens Pisa/Florença de trem. No momento da compra selecionei a estação de trem “Firenze Campo Marte” como sendo nosso destino final, pois sendo uma das estações situadas no centro da cidade, imaginei que seria suficiente. Ao chegar à cidade, já à noite e sem nenhuma disposição, descobrimos que a estação mais próxima a do nosso hostel era a estação “Santa Maria Novella”.

Decidimos comprar um ticket extra pra nos deslocar ao novo destino, e tentamos nos orientar pelas placas ou pedir alguma informação. Um funcionário que nos viu um tanto quanto perdidos ofereceu-nos ajuda. Explicamos nossa situação (da melhor forma possível, pois se tem uma coisa praticamente impossível na Itália é conversar em inglês) e descobrimos que a estação era uma após a que estávamos e que o último trem passaria em cinco minutos. Prontamente perguntamos onde e como poderíamos adquirir novas passagens. O senhor num tom mais que italiano (ele gritou conosco, como se estivesse dando uma bronca, mas entendemos que era puramente força de expressão e forma de falar dele), nos disse que não precisávamos de passagens e que era apenas uma estação. Mais do que depressa entramos no trem que acabava de parar e nos acomodamos em lugares vagos.

Quando saímos de Roma com Destino a Pisa (viagem de aproximadamente três horas), não fomos em nenhum momento questionados quanto à passagens. O mesmo aconteceu no trajeto Pisa/Florença. Para nossa surpresa, no trem percorria uma única estação, na qual não tínhamos as passagens, fomos questionados a mostrá-las. Muito calmamente (apenas for fora, é claro), mostrei a passagem que tínhamos (o trajeto Pisa/Florença) já pensando em mil formas de explicar o que havia acontecido e o porquê de não termos uma passagem válida para este trajeto. O rapaz olhava para o papel como quem olha para um óvni. Após alguns minutos de tensão ele nos devolveu as passagens e nos questionou o fato de o documento não conter o logotipo da empresa e estar em um formato diferente do que ele estava habituado a ver (havíamos comprado via internet). Devolveu-nos o documento e saiu resmungando alguma coisa em italiano. Foi bastante tenso, mas nos acabamos de rir depois. Como disse, tragicômico.

Ao chegarmos a Florença, o tempo estava variando entre muita chuva e garoa. Isso foi o suficiente para que a cidade passasse praticamente despercebida por nós no que diz respeito à sua importância. É claro que foi inevitável notarmos a beleza de suas construções, mas a essa altura, já estávamos achando tudo muito parecido: construções antigas (como se tivessem sido construídas para gigantes), vielas e ruas charmosas (mas nem tanto devido à chuva, que deixava as ruas e calçadas escorregadias), muitas lojas de gifts e etc.

Nosso primeiro destino foi a Galeria Dell’Academia, um importante museu de Florença dedicado à preservação de obras de arte de fins do gótico até o final do século XIX. É neste lugar que se encontra o David de Michelangelo. Ao chegarmos ao local descobrimos que naquele dia estaria fechado ao público. Não chegou a ser uma decepção, pois o fato de meus parceiros de viagem (com exceção da minha cunhada Sônia) não apreciarem muito visitas a museus, me deixou um pouco menos incomodada por não ter que forçá-los a nos esperar por um longo período ou fazer uma visita indesejada.



Encaminhamos-nos então para a Capela dos Médici, que originalmente foi construída como um mausoléu para os membros da família Medici. Hoje é considerada um dos mais importantes prédios religiosos da Toscana. Aproveitamos para nos abrigar da chuva, que neste momento estava bem forte e não nos proporcionava condições de passeios ao ar livre. Pessoalmente não achei nada de impressionante no exterior da Capela, provavelmente porque o teor artístico se localize em seu interior e, mais uma vez meus parceiros de viagem não se animaram em pagar a taxa requisitada para a visita. Neste momento já estava me perguntando se o mais sensato não seria fazer viagens deste porte sozinha, pois dessa forma eu faria meu roteiro no meu tempo e da forma que eu quisesse... Estava um pouco frustrada. Mas resolvi deixar isso de lado e continuar.



Seguimos em direção a Catedral Santa Maria de Fiori, mas acabamos nos deparando primeiro com o Pallazio Vecchio, que atualmente é a prefeitura de Florença e no seu interior acolhe um museu que expõe, entre outras, obras de Agnolo Bronzino, Michelangelo Buonarroti e Giorgio Vasari. Mais uma vez não entramos no prédio, pois a entrada não era gratuita e não tive total apoio para o pagamento. Dessa vez tenho que admitir que o exterior por si só é praticamente um museu, com muitas esculturas. Não possui as obras lindíssimas que pude ver em fotos na internet, com o teto e paredes totalmente adornadas pelos mestres da pintura renascentista, mas ainda assim não posso dizer que foi decepcionante.

Para ser sincera, apesar de achar as esculturas realmente fantásticas, ao olhá-las sempre tenho um sentimento de repúdio ou no mínimo estranheza. Cada uma delas representa um período ou um acontecimento, mas sempre tenho uma sensação de exagerada brutalidade nesses acontecimentos. Não nego que seja arte e que o trabalho seja de uma perfeição admirável quando imaginamos que os originais foram feitos em épocas onde os equipamentos não possuíam precisão e que os materiais utilizados não eram os mais maleáveis.





Permanecemos um tempo por ali e também passam pelo exterior da Galeria Uffizy, um dos mais famosos museus de arte do mundo, com seu acervo abrangendo de pinturas do renascimento até esculturas da Idade. La está exposta a obra O Nascimento de Vênus de Boticelli. A galeria é um desafio físico para os visitantes. Não tanto pelo tamanho, mas porque são mais de 1.500 obras de arte dispostas em 45 salas. Mais uma vez visitamos apenas o exterior, o que obviamente não é suficiente, mas era tudo o que tínhamos no momento.

Quando a chuva nos permitiu, nos encaminhamos para a Catedral Santa Maria de Fiori, uma igreja revestida com mármore verde, rosa e branco, o Duomo, levou quase 2 séculos para ser construída, é um dos principais cartões postais de Florença. É a 4ª maior catedral do mundo. Este provavelmente foi o lugar que mais me impressionou na cidade e o ponto auge do nosso dia. Olhar para essa igreja me fez pensar se não estaria a maior parte do mármore e granito da terra concentrado na cidade de Florença. É uma verdadeira obra de arte.
   
A entrada na igreja é gratuita, mas havia uma fila muito mais que quilométrica para visitá-la, o que nos fez mais uma vez desistir. Tivemos bastante tempo para apreciá-la por fora, já que novamente a chuva estava muito forte e nos obrigou a ficar abrigados em um ponto onde podíamos vê-la bem de perto. Não foi um período ruim, pois àquele dia definitivamente não era o mais indicado para turismo, mas era o único que possuíamos. Pudemos ficar algum tempo apreciando a magnífica construção e descansar um pouco as pernas, já que caminhar de um lugar para outro e ainda cuidar para não cair nos paralelepípedos escorregadios não estava sendo uma tarefa fácil.

Seguimos então para a Ponte Vecchia, uma das mais famosas pontes do mundo, construída no século XIV sobre o rio Arno, usada inicialmente como açougue e, mais tarde, ocupada por ourives, os quais continuam ali ainda hoje. Olhando-a por fora, me recordo do livro “O Cortiço”, de Aluísio de Azevedo, que denuncia a exploração e as péssimas condições de vida dos moradores das estalagens ou dos cortiços cariocas do final do século XIX. Certamente quando li esse livro imaginei as casas como àquelas lojas da Ponte Vecchia. Amontoadas, sem padronização, com construções saltando para fora do limite da ponte. 


Ao me aproximar do local, no entanto, é possível notar de imediato o contraste. Dezenas de luxuosas joalherias, com preços de enfartar apenas de olhar, com peças dos sonhos de qualquer mulher. Existem também muitas lojas de presentes ou decoração, com preços igualmente nada atrativos. Cruzei a ponte estupefata com tanta beleza. Não tenho condições de descrever de uma forma melhor a não ser dizendo que é um dos lugares mais caros em que já estive.



   
Caminhamos em direção à Igreja Santa Croce, desenhada em forma de cruz egípcia (T), com um interior de dimensões impressionantes, essa é a maior igreja franciscana da Italia. Admito que após visitarmos a Catedral Santa Maria de Fiori, esta ficou praticamente “insignificante” em relação à tamanho. Talvez devêssemos tê-la visitado antes... Ainda assim é inegável sua beleza e mais uma vez reafirmava mentalmente que todo o mármore do mundo estava aqui por essas bandas...

Ainda tínhamos algum tempo, mas estávamos exaustos e um pouco mal-humorados devido ao mau tempo. Resolvemos ir para o hostel esperar o horário do nosso trem, que partiria para Veneza ainda naquela noite.

Após ter visitado Florença, tive uma sensação incômoda, frustrante, por não tê-la aproveitado melhor. Após sairmos da cidade eu a havia elegido como a pior cidade que eu havia passado. Apesar de ter gostado de algumas coisas, não havia gostado do passeio. Muitos meses depois, por influência da Sônia (minha cunhada e companheira nesta viagem), li o livro “Inferno” escrito por Dan Brown, que faz menções à história de Dante e especula sobre sua obra, a Divina Comédia. Este livro fez com que eu me reapaixonasse por Florença, e despertou em mim o desejo de retornar um dia, para apreciar todas as obras como elas realmente merecem.

Escrevendo este post só pude me certificar do que eu já imaginava. Quando visitei Florença, não foi apenas a chuva que foi incômoda naquele dia, mas o fato de apenas termos caminhado o dia inteiro para “constatar” que todos os lugares estavam onde deveriam estar. Não estou dizendo que precisamos entrar em todos os museus de todas as cidades que visitarmos, mas quando você montar um roteiro e eleger alguns lugares para conhecer, realmente os conheça, e não se importe de pagar a taxa de entrada ou de fazer seus companheiros de viagem te esperar por algumas horas que sejam. Certamente isso fará toda a diferença para tornar sua viagem inesquecível. Florença tornou-se para mim uma cidade que ainda me espera para conhecê-la de verdade.

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