Dia desses estava conversando com uma amiga e
falávamos sobre tipos de turistas. Cheguei à conclusão que, diferentemente
dela, sou uma turista clichê. Sim, clichê, pois os destinos frutos do meu
desejo são os mais “populares” e almejados pela maioria dos mortais. Em minha
defesa, argumento que os destinos clichês não se tornaram clichês à toa, se
hoje eles são rotulados dessa forma é porque em algum momento foi possível
identificar sua importância e disseminar a vontade de fazer parte dos
conhecedores dessas maravilhas.
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Canal tão estreito que não se pode abrir os braços |
Quer uma cidade mais
clichê do que Veneza? Famosa pelos seus inúmeros canais e pontes,
suas gôndolas, máscaras e tudo o que povoa nossa mente quando se fala dela.
Conhecida ainda por eventos como o Festival de Cinema e a Bienal de Artes, pela Regata Histórica, pela
fabricação de vidro, pelo Carnaval de Veneza,
pelos cassinos e pelos seus passeios românticos, levando muitos casais a
passarem suas luas-de-mel.
Veneza fica
localizada na região do Vêneto no nordeste da Itália.
É mundialmente conhecida pela sua história, canais, museus e monumentos. É
classificada como Patrimônio da
Humanidade pela UNESCO por sua importância histórica e cultural, uma vez que já foi uma potência comercial, uma das cidades mais
importantes da Europa, com uma história rica e complexa e um império de
influência mundial. Como não poderia deixar de ser, é um dos mais populares
destinos turísticos do mundo.
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Nossa Chegada Noturna - Estação de Trem |
Chegamos à Veneza já durante a noite, e para
ajudar, com uma chuva fina, mas suficiente para molhar câmeras e roupas. Não
podíamos nos dar ao luxo de ter roupas molhadas na bagagem, estávamos apenas na
metade da nossa viagem. Sendo assim, optamos por um banho e cama, para que
pudéssemos aproveitar bem o dia seguinte. É fato que minha mente fervilhava com
a emoção de estar em uma cidade que, apesar de fazer parte dos meus sonhos,
jamais havia imaginado ser possível conhecer. Banho tomado, não foi tão fácil
ou tão rápido adormecer, primeiro precisei conter minha emoção e meu
entusiasmo.
Havia feito um roteiro de lugares por onde
pretendia passar e conhecer na cidade, mas logo ao começar o percurso me
esqueci dele, fascinada com tanta beleza nas famosas máscaras venezianas das
milhares de barracas por onde quer que passasse, no colorido das peças de
vidro, no encantamento provocado pelos estreitos canais e ruas que terminavam
em rios. Estava encantada e fascinada por essa cidade.
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Objetos de Decoração |
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Bijus e Acessórios |
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Colorido das Bonecas |
Ao iniciar nossa caminhada cruzamos a ponte
Degli Scalzi rumando em direção à Praça São Marcos, que concentrava a maioria
dos locais que pretendíamos visitar. Seguimos guiados por um GPS, que nem
sempre funcionava devido ao fraco sinal de internet, mas que nos foi bastante
útil. É extremamente fácil se perder pelas ruelas e becos, que vão te levando de
forma a fazer com que você não saiba sequer a direção para onde pretende ir. Não
posso reclamar exatamente, pois esses “desencontros” nos permitiu aproveitar as
belas paisagens e curiosidades que a cidade proporciona.
Não posso dizer que as construções em Veneza
(ao menos em seu exterior) sejam exatamente bonitas ou bem conservadas. Na
verdade o que se pode ver são muitos edifícios deteriorados pelo tempo ou
mesmo pelas águas que em épocas de cheia, avançam. Mas o pior cenário são os
becos pichados e malcheirosos, imagino que isso se deva em parte aos preços
praticados para o uso de sanitários, quando se encontra um.
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Construções Deterioradas |
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Pichações por Todos os Lados |
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Beco Estreito e Fétido |
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Térreo Inutilizado pela Água |
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Construção Deteriorada |
Algumas construções são intrigantes. Não
consegui encontrar em nenhuma pesquisa relatos do quanto a água subiu e avançou
sobre as construções nos últimos anos, mas vemos muitos imóveis que
simplesmente acabam na água. Onde deveria haver um degrau para entrar não há
nada além de água. Outro fato muito comum é o “fechamento” de uma porta ou
janela para impedir que a água invada o ambiente. Encontrei em algumas
pesquisas que a população costuma morar a partir do primeiro andar das casas,
pois não é incomum o alagamento de toda a cidade nas épocas de cheias.
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Hotel dentro de um Prédio Destruido |
Em compensação, nunca vi
tanto contraste entre o exterior e interior. Pode-se ver uma construção digna
de destroços de alguma guerra civil e, quando se olha para dentro, é nada menos
que um luxuoso hotel, e não duvide se este for cinco estrelas. A exuberância
das vitrines atrasou um pouco nosso trajeto, pois não conseguia conter o
impulso de uma ou outra foto.
Ao cruzar a famosa ponte
Rialto, fiquei maravilhada diante das vitrines das lojas. São tantas coisas
lindas, verdadeiras obras de arte, produzidas especialmente para os turistas. A
arrumação das lojas, os artigos em vidro, as cores, as charmosas gôndola com
seus gondoleiros vestidos à caráter, os luxuosos hotéis e restaurantes. Era
tanto luxo e tanto charme, que o cheiro e construções mal conservadas foram
rapidamente esquecidos.
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Praça São Marcos Alagada |
A Praça de São Marcos é o
lugar mais baixo de Veneza, e quando a água sobe por tempestades ou excesso de
chuva é o primeiro lugar a inundar-se. A água drena diretamente para o Grande
Canal, o que é ideal quando chove, mas quando a maré sobe tem o efeito inverso,
e a água do canal escoa para a praça.
Infelizmente o clima não
estava muito a nosso favor. Estava muito melhor do que em Florença, é verdade,
mas ainda assim estava um misto de chove e para e a maré havia subido. Por esse
motivo, quando finalmente conseguimos chegar à Praça São Marcos, estava alagada
e com a circulação bastante comprometida. Havia muitos “caixotes” e “palanques”
que formavam uma espécie de ponte, que permitia às pessoas cruzarem a parte
mais alagada da Praça. Os mais avisados utilizavam galochas e circulavam
tranquilamente por onde queriam, mas não era esse o nosso caso. Até ameaçamos
comprar uma “bota plástica” para utilizar sobre os sapatos e calças, mas o
preço era impraticável. Para uma sacola plástica melhorada que se põe sobre o
calçado pedia-se a bagatela de 15 euros. Preferimos nos espremer entre os que
cruzavam a ponte de palanques para atravessar a praça.
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Tapumes Improvisados |
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Tapumes Improvisados |
Fiquei a pensar no por que
uma cidade tão turística ainda não esteja adaptada às mudanças climáticas ou
que ainda não se tenha criado uma forma melhor para as pessoas se locomoverem
em dias chuvosos. E sequer estou a falar do cheiro, que com a cheia inundou
todos os cantos, becos e a praça como se estivéssemos nas proximidades de
alguma fossa. Talvez devido à sensação provocada pelo cheiro, não tive coragem
de comer nenhum tipo de comida marinha (e olha que simplesmente amo frutos do
mar). Quando chegou a hora do almoço, preferi ficar com a tradicional pizza
italiana. Não sei exatamente o que seria possível ser feito, provavelmente o
problema é muito maior do que apenas este que posso enxergar, mas ainda assim é
de se lamentar.
Passadas as primeiras
impressões à respeito da Praça São Marcos, pudemos olhar ao redor e lá estavam
todos eles, os famosos locais que deveríamos conhecer: O Palácio Ducal, a
magnífica Basílica de São Marcos, O Museu Correr, tudo ali, concentrado naquele
pontinho alagado.
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Palácio Ducal |
O Palácio Ducal também conhecido como Palácio
do Doge, é um símbolo da cidade e uma obra-prima do gótico veneziano. Foi
construído entre 1309 e 1424. Antiga sede do Doge de Veneza, hoje é
o Museu do Palácio Ducal.
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Basílica de São Marcos |
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Cúpula da Basílica de São Marcos |
A Basílica
de São Marcos é a mais
famosa das igrejas de Veneza, e um dos melhores exemplos da arquitetura bizantina. Localizada ao lado do Palácio dos Doges, a basílica é
a sede da arquidiocese católica
romana de Veneza desde 1807. É neste lugar que estão localizados os cavalos
de São Marcos, que conheci através do livro “Inferno”, de Dan Brown.
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Museu Correr |
O Museu
Correr é o museu municipal da cidade, situado na Praça de São Marcos, ocupa três
quartos da praça. Lá estão obras de estilo neoclássico de Antônio Canova, uma
coleção de mapas, moedas, armaduras e outros objetos que contam a história da
cidade. Relata a trajetória de Veneza, principalmente até o ano de 1866,
quando foi anexada a Itália.
Não há
nada de muito especial quando se pensa que é apenas um barco que chacoalha
bastante, que a todo o momento parece que vai afundar e com preço nada
atrativo. O que torna o passeio encantador é a atmosfera criada em torno disso.
As clássicas cadeiras cuidadosamente dispostas no pequeno barquinho, o tapete,
o gondoleiro uniformizado com sua camiseta listradinha no estilo marinheiro e
chapéu, a riqueza de detalhes da embarcação, o estilo único da proa, os
pequenos adornos colocados em torno de tudo. Não posso dizer que tenha sido um
passeio romântico. Acredito que o que torna qualquer coisa ou lugar romântico
seja o romantismo de quem está vivenciando o momento. Talvez seja essa a razão.
Mas não foi ruim não, e provavelmente eu teria me sentido frustrada se tivesse
visitado Veneza e não tivesse feito o passeio de gôndola.
Ao
terminar o passeio, seguimos em direção à estação Santa Lucia, nas imediações
do nosso hotel. Fizemos nossas compras, pegamos nossas coisas e partimos para o
aeroporto. Para chegar ao aeroporto foi necessário pegarmos um ônibus, o pior e
mais caro transporte público que já utilizei. Pagamos caro por um trajeto de
aproximadamente uma hora, viajando de pé num ônibus lotado. Mas sobrevivemos.
Após isso embarcamos para Barcelona, nossa próxima parada.
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Consequências da Cheia |
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